"Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil."
Eis as minhas observações acerca da temática proposta pelo ENEM 2023.
Aos meus queridos e minhas queridas, leitores e leitoras deste blog, trago os meus cumprimentos, a minha declaração de saudade de trocar ideias com vocês e os meus agradecimentos por passarem por aqui.
Hoje, ou melhor, ontem, me cutucou e instigou demais ler a proposta de redação do ENEM 2023, tema importantíssimo para ser discutido e analisado na nossa sociedade.
Esse, na verdade, foi um assunto que sempre me estimulou a escrever em meu diário, com vários desabafos pessoais, que nesta postagem tento compartilhar com vocês, ainda que apenas alguns dos meus pensamentos acerca dessa polêmica.
Já que não tive a oportunidade de prestar esse exame, deixo aqui expressada a minha opinião, sem todas as técnicas que uma perfeita redação dissertativa argumentativa exige. Ou seja, muito mais livre para expor o que penso.
Começo ressaltando a importância que o cuidado, de uma forma geral, representa na formação de uma sociedade e inspirada na Professora de filosofia Lucia Helena Galvão da instituição Nova Acrópole de Brasília, a quem muito respeito e admiro, fazendo uma citação etimológica sobre o significado da palavra "cuidar".
A palavra deriva do latim "cogito", que significa remoer no pensamento, pensar, cogitar.
Assim como "curar", ambas têm o sentido de proteger o ser humano, a sua dignidade.
"O cuidado é um estado de sofrimento mental ou de absorção: cuidar é um estado mental sobrecarregado, um estado de ansiedade, medo ou preocupação em relação a alguma coisa ou alguém."
Fonte: https://1library.org/article/cuidar-e-cuidado-etimologia-e-apontamento-hist%C3%B3rico.zk3x9g1y
Partindo dessa premissa, de que cuidar é estar no estado de preocupação e engajamento no bem-estar, seja de alguém ou de alguma circunstância que levem pessoas a ele, não haveria necessidade alguma de se fazer qualquer distinção de gênero nesse sentido. Essa deveria ser, como o termo mesmo propõe, uma missão de todos os seres humanos, de uns para com os outros.
Mas preciso aqui desabafar o que penso sempre que me percebo na necessidade obrigatória de separar homens e mulheres nesse "jogo de servir" e de pensar sobretudo na visão social e suas consequências sobre a aplicação prática de um e de outro para chegar à proposta da banca do ENEM deste ano, que visa a análise especificamente a respeito do segundo gênero.
Sinto a necessidade de dissertar sobre a tarefa de cuidar de uma forma geral, antes de me aprofundar nas especificidades dos menores, idosos e portadores de deficiência.
Os homens cuidam. As mulheres cuidam. Cada vez mais de áreas comuns. E cada qual também já demonstrou, cientificamente, que as inteligências cognitivas, bem como a sua dosagem em cada ser humano, tem mais a ver com genética do que com gênero. Ponto.
E é com essa ideia em mente, de que não há relação de superioridade ou inferioridade intelectual entre "gêneros", que inicio a minha empreitada reflexiva para chegar a alguma conclusão ao final deste post.
Adoro fazer perguntas: por que às mulheres cabe a predominância da responsabilidade dos afazeres domésticos e do cuidado com as pessoas?
Porque são trabalhos que exigem uma sensibilidade diferenciada, que as mulheres trazem numa quantidade mais expressiva?
Se a resposta for sim, eu faço outra pergunta: E por que então não há valor monetário condizente com essa expressividade preponderante nas mulheres?
Pergunto mais: será mesmo que as mulheres são dotadas de mais emoção, de detalhismo mais apurado, de sensibilidade e amor, só por serem do sexo feminino? Os homens não possuem estas características?
Agora refletindo mais objetivamente: o quanto de importância tem na cabeça de cada um sobre o cuidado das crianças na formação das nossas gerações? Que tipo de cuidado elas precisam ter para formarmos uma boa sociedade? De quem? Por que? Por quanto tempo?
São perguntas difíceis de se responder pela diversidade de opiniões que cada pessoa tem.
E os idosos? Que importância têm para cada indivíduo? Despesa? Trabalho? Inutilidade? Ou experiência, conhecimento prático e disponibilidade para cuidar?
Cada qual, dentro de contextos particulares, tem a sua própria história e a sua importância no meio em que vivem.
Sobre os deficientes tenho uma visão muito particular. Vejo-os como missão e como lembrete da vida de que, querendo ou não, sendo solícitos ou não, por compulsoriedade nestes casos, precisamos cuidar de quem não poderá nos dar qualquer retorno. A dedicação nesse cuidado também tem muito a ver com os contextos particulares e a construção psíquica de cada um.
Dentro da minha construção, acredito que o exercício de cuidado, seja no pensamento, na preocupação com alguém que amo ou com a sociedade em que vivo ou nas ações que pratico em relação ao que penso, tem a ver com o que recebi ao longo da minha trajetória, mas também tem muito do que trago comigo, sei lá de onde.
Se dedicar-me a pensar no tamanho da importância que o cuidado tem para mim vou me chatear bastante ao constatar que as pessoas que empenham as suas vidas a cuidar, sejam mulheres ou mesmo os homens, são tão pouco valorizadas e até mesmo invisibilizadas, de fato, como o próprio enunciado sugere.
Um exemplo clássico disso são as mulheres que optam por cuidarem dos seus lares, dos seus idosos e de seus deficientes, que não produzem valor financeiro advindo dos meios burgueses, do neoliberalismo, serem vistas como submissas ou infelizes, subjugadas por seus homens, que quando se separam, não julgam mérito na divisão de seus bens de modo igualitário. Querem lhe dar aquém do seu esforço, forçando-as a viverem de maneira menor e às vezes indigna até, como uma punição indireta, ou seja, um desvalor declarado sobre o cuidado que dedicaram.
Isso para mim deveria vir em contrato matrimonial ou familiar: a função de cada um e o valor atribuído a cada papel nas relações.
Sem contar, já elucubrando, sobre o caos gerado pela ausência do cuidado dessas áreas importantes. As mulheres buscam o seu valor desesperadamente, se ausentando dos seus lares e se sujeitando a receber míseros salários apenas para receberem o título de "mulheres guerreiras". Rótulo, a meu ver, criado de caso pensado pela indústria do lucro desmedido que só pensa no agora.
Pensamento já herdado pela falta de cuidado? Sei lá. Pessoas se constroem egoístas por diversos motivos, sem um sentido claro, a meu ver.
Percebo as mulheres cada vez mais perdidas na dicotomia entre o ir ou ficar, entre serem "livres" escravas do sistema burguês ou "prisioneiras" do servir quase gratuito que o seu amor incondicional oferta.
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